segunda-feira, 24 de novembro de 2008

CICLO IV - INICIAL: O espaço geográfico na atualidade

O espaço geográfico na atualidade

O espaço geográfico atual é resultado também da revolução tecnológica, especialmente na área da informática. Essa revolução teve início na década de 1970 e foi promovida para atender aos interesses eco­nômicos das grandes transnacionais.
Em apenas duas décadas a revolução da informática ligou instantaneamente os lugares e passou a integrar as diversas estruturas de todos os setores da economia, como vias de transporte, hidrelétricas, fábricas e em­preendimentos agrários. Conseqüentemente, o espaço geográfico se tornou extremamente técnico, capaz de funcionar como uma máquina eficaz para garantir o lu­cro das empresas transnacionais.
O computador tornou-se o instrumento básico das transnacionais, tanto das que produzem como daquelas que atuam no mercado financeiro.
A velocidade da informação globalizada aproxima os lugares e torna possível saber dos fatos ao mesmo tempo que ocorrem (on tine, "em tempo real"), estabelecendo ma relação imediata entre lugares e acontecimentos.
Assim, o computador permite uma resposta rápida , mudanças econômicas, políticas e sociais. Esse fato configura um novo espaço geográfico, que acelera a obtenção do lucro em escala mundial.
As maiores beneficiárias desse processo são as ativi­dadesfinanceiras. Agora o dinheiro pode fluir através o globo, passando a circular freneticamente, em pou­cos instantes. Para tanto, surgem pontos ligados por uma densa e ampla rede interativa de comunicações, que funciona sem parar. Dessa forma, locais estratégicos na superfície terrestre são interligados por computadores, televisões, cabos de fibra ótica, satélites etc. Graças a esses equipamentos, o mercado financeiro funciona todo o tempo e em todos os lugares, submetendo-se pouco
a normas jurídicas ou a qualquer controle. Em alguns lugares essa liberdade dos capitais é extrema. São os chamados "paraísos fiscais" (como as ilhas Cayman, no Caribe), onde as operações financeiras são privilegia­das por isenções de impostos e por sigilo contratual.
O mundo produz diariamente não mais do que US$ 50 bilhões, mas calcula-se que sejam movimenta­dos US$ 4 trilhões a cada dia.
No limite, esses computadores globais movimentam in­formações vitais para os grupos hegemônicos do sistema.
Os computadores são resultado de duas ondas tecnológicas:
· 1975-90: quando surgiram a informática, robótica, telecomunicações, biotecnologia;
· atual: que registra o surgimento dos softwares, po­derosos bancos de dados, comandos a distância para concepção e produção, sistemas inteligen­tes, mensageiros eletrônicos etc.
Essas duas ondas tecnológicas, impulsionadas pela ci­ência, promoveram a integração dos equipamentos liga­dos às áreas de telecomunicações, computação e robótica. Por isso, o espaço geográfico atual foi chamado, pelo geógrafo Milton Santos, de técnico-científico-informacional.
Nos Estados Unidos, por exemplo, só o comércio via Internet entre empresas - o business to business commerce, ou B2B - cresceu quase quinze vezes em cinco anos, passando de US$ 114 bilhões em 1999 para US$ 1,5 trilhão em 2004.
Nota-se que o avanço tecnológico amplia a ação das empresas e, por extensão, suas margens de lucro. Este é o principal resultado prático da criação das novas tecnologias na área da informática - ganhos maiores das grandes corporações multinacionais, propiciados por transações mais baratas e redução de funcionários.

O papel dos organismos internacionais

Entre 1988 e 2003 houve um crescimento notável das transações internacionais. Segundo a Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad), as transações comerciais cresceram 6,5% ao ano; no mesmo período, o PIE (Produto Interno Bruto) mundial teve um incremento anual de apenas 3,4%.
Essa expansão não teria ocorrido sem a interferên­cia dos países desenvolvidos sobre a política interna dos países subdesenvolvidos, geralmente endividados e dependentes. Tal interferência ocorre freqüentem ente por meio dos organismos internacionais, tais como o G8 (Grupo dos sete países mais ricos mais a Rússia), a OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvol­vimento Econômico), a OMC (Organização Mundial do Comércio), o FMI (Fundo Monetário Internacional), o BIRD ou BM (Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento, ou Banco Mundial) e até a Otan (Or­ganização do Tratado do Atlântico Norte). Vejamos al­guns exemplos.
Em 1975, o então presidente francês Valéry Giscard d'Estaing convidou os dirigentes políticos da Alemanha, EUA, Japão, Inglaterra e Itália para uma reunião no cas­telo de Rambouillet, perto de Paris.
O objetivo era discutir de forma informal algumas questões econômicas, especialmente a crise do petró­leo. Os participantes decidiram na época promover novos encontros todo ano. A partir de 1976 o Canadá também foi convidado, e assim se formou o G7. A Rússia integrou-se oficialmente nesse grupo a partir do encontro de Birmingham, em 1998, e o G7 se trans­formou em G8. Aliás, no encontro de Kananaskis, em 2002, os participantes convidaram a Rússia para exer­cer a presidência e organizar o encontro de 2006, pela primeira vez.
No encontro de Okinawa, em 2000, pela primeira vez participaram chefes de estado de diversos países da África, e formou-se o I'rEPAD (The New Partnersbip for Africa's Deve!opment). Esse plano de desenvolvimento para a África requer "um bom governo" (nas palavras do G8 e segundo seus critérios) e uma nova relação de igualdade com os países do Norte.
O encontro do G8 mais tristemente famoso foi o de Gênova, Itália, em 2001. Mais de 300.000 pessoas protestaram contra as políticas desenvolvidas pelo G8, e o jo­vem ativista Cada Giuliani foi morto pela polícia italiana.
O encontro de 2002 foi em Kananaskis, no Canadá. Esse lugar distante dos grandes centros urbanos foi es­colhido para impedir protestos maciços, como em Gênova. O encontro nas montanhas canadenses foi considerado um êxito, já que se conseguiu evitar gran­des manifestações. Assim o encontro seguinte, de 2003, foi no povoado francês de Evian-Ies-Bains, também si­tuado na periferia do país e de difícil acesso.
Embora o G8 insista que suas reuniões não têm po­der decisório e que são principalmente encontros infor­mais, elas exercem influência na política neoliberal do FMI, Banco Mundial, OMC etc.
No FMI - criado originalmente para fomentar o de­senvolvimento dos países mais pobres no imediato pós-guerra - são necessários 85% dos votos para aprovar uma resolução qualquer. No entanto, os Estados Uni­dos são seu sócio majoritário, concentrando 17% dos votos. Isso significa que, na prática, sem os Estados Unidos, o FMI não decide absolutamente nada! Em 1944, a Segunda Guerra Mundial ainda não havia acabado. Mas já estava claro que o Eixo (Alemanha, Itália e Japão) seria derrotado pelos Aliados (Estados Unidos, União Soviética, França e Inglaterra). Desse modo, embora o conflito militar continuasse, os gover­nos já discutiam o pós-guerra. Um dos principais pro­blemas consistia em organizar a economia, uma vez que tanto a Primeira quanto a Segunda Guerra Mundial ha­viam sido conseqüência - direta ou indiretamente - da disputa entre os grandes países capitalistas.
Com o objetivo de discutir o funcionamento da economia no pós-guerra, 44 países enviaram 700 represen­tantes para uma grande reunião, iniciada em 1º de julho de 1944 na cidade de Bretton Woods, situada no estado de New Hampshire, Estados Unidos.
Na abertura da Conferência, o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Henry Morgenthau, falou da "cria­ção de uma economia mundial dinâmica, na qual os povos de cada nação terão a possibilidade de realizar suas potencialidades em paz e de gozar mais dos frutos do progresso material, numa Terra benzida por rique­zas naturais infinitas".
Por trás dessas belas palavras, estava o interesse dos Estados Unidos em garantir a eliminação de barreiras para seus produtos, num momento em que era o único país do Norte a dispor de excedentes de mercadorias. Os Estados Unidos queriam, também, facilitar seus in­vestimentos no estrangeiro e ter acesso livre às fontes de matérias-primas.
O Acordo de Bretton Woods, assinado no dia 22 de julho de 1944, tratava de três assuntos: sistema monetário internacional, regras comerciais e planos de reconstrução para as economias destruídas pela guerra.
Hoje não existe mais o mundo desenhado naquele Acordo. Mas continuam existindo duas instituições criadas pela Conferência de Bretton Woods: o Fundo Mo­netário Internacional (FMI), que começou a funcionar em 1º de março de 1947, e o Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD, mais conhecido como Banco Mundial), que se instalou ainda antes, em 27 de dezembro de 1945.
Supostamente, o BIRD foi criado para financiar projetos de recuperação e construção da infra-estrutura necessária ao desenvolvimento econômico. Já o FMI teria a função básica de fornecer recursos financeiros, tal como um banqueiro de última instância, para aqueles países que apresentassem déficits nas contas externas, decor­rentes de conjunturas internacionais adversas.
Na prática, tanto o FMI como o Banco Mundial ganharam importância com a crise da dívida externa, nos anos 1980, quando emprestaram ou autorizaram empréstimos apenas para os países que se dispuseram a adotar os programas de ajuste propostos pelas duas entidades.
Tanto o FMI quanto o Banco Mundial são dirigidos por um "Comitê de Governadores". Cada país é representado por um governador. Teoricamente, os governa­dores elegem o presidente do Banco Mundial, mas, na prática, o presidente do BIRD é sempre um cidadão dos Estados Unidos, escolhido pelo governo norte-ame­ricano. Já o diretor-presidente do FMI é tradicionalmen­te um europeu. O dinheiro do FMI provém dos 182 países membros, dentre os quais o Brasil. Sem dúvida, manda no Fundo quem tem mais dinheiro investido, isto é, os Estados Unidos. A OMC, por sua vez, estabelece normas para comerciais entre países. Foi criada no imediato pós-guerra com o nome de GATT (General Agreement on Tariffs and Trade, "Acordo Geral de Tarifas e Comércio"). Nas últimas décadas, a OMC tem sido um dos principais instrumentos dos países ricos para promover a expan­são do comércio mundial. Para tanto, defende que os países membros adotem algumas estratégias, tais como:
· subordinação à Lei de Patentes e Propriedade In­telectual;
· formação de blocos supranacionais;
· eliminação das barreiras comerciais e privatizações.
Na atual conjuntura de grandes debates econômi­cos, nota-se, por outro lado, um grande esvaziamento da ONU (Organização das Nações Unidas), criada logo após a Segunda Grande Guerra para evitar novos con­flitos e promover a convivência pacífica dos povos. A importância da organização é relativizada pela atual predominância das questões econômicas, em detrimento das questões sociais e humanitárias.
O mais importante órgão da ONU é o Conselho de Segurança, no qual apenas cinco países, talvez os mais poderosos (França, Inglaterra, China, Rússia, Estados Unidos), têm poder de veto. Esse instrumento geral­mente é usado quando os interesses das potências não são contemplados.
Conselho de Segurança da ONU
Órgão com poder para autorizar ações internacionais, como imposição de sanções, envio de forças internacionais e uso da força contra países.
• Como é formado
É integrado por quinze países. Cinco são membros permanentes: EUA, China, Rússia, Grã-Bretanha e
França. Outros dez membros têm direito à vaga por dois anos, em sistema rotativo.
• Como funciona o veto
Cada um dos cinco membros permanentes pode vetar qualquer resolução do Conselho.
• Como os membros rotativos são escolhidos
Eles são eleitos por todos os membros da Assembléia Geral das Nações Unidas.
• Como é o processo de votação
As resoluções são aprovadas com pelo menos nove votos, desde que não haja veto dos membros permanentes.
• Resoluções mais extremas do Conselho
- Em 1950, autorizou o uso da força para fazer com que a Coréia do Norte retirasse suas tropas da Coréia do Sul.
- Em 1990, advertiu o Iraque de que, se não desocupasse o Kuwait, "todos os meios" seriam usados para pôr fim à invasão.
Subdesenvolvimento: em busca de soluções
Para tentar solucionar o problema da falta de recur­sos financeiros, os países subdesenvolvidos costumam adotar algumas medidas, cujos resultados são bastante questionáveis. Dentre essas medidas e suas implicações, destacam-se:
· Exportação crescente de commodities (bens cujo preço é determinado pela oferta e procura internacional) que atendem ao interesse da agroindús­tria transnacional. Por exemplo, no Brasil, a produção de soja deverá crescer 225% até 2020, segundo organismos especializados. Esses dados
podem parecer extremamente positivos, mas também acarretam conseqüências negativas, como:
- deterioração dos termos de troca (as matérias-primas exportadas por esses países valem cada vez menos, em comparação com os produtos de alta tecnologia importados do mundo desenvolvido);
- deterioração ambiental (poluição causada pelo uso de agrotóxicos, desmatamento para novos cultivos, problemas ambientais por uso incor­reto do solo).
O que são commodoties?
O significado mais prático ou mais usual para esse termo refere-se genericamente aos bens primários ne­gociados nas bolsas de mercadorias ou de futuros.
Essas bolsas constituem um mercado organiza­do para a compra e venda de contratos. Esses con­tratos, por sua vez, são acordos formais e legais para entrega, em uma data futura, de bens, como trigo, ouro ou café. Outros "produtos" também po­dem ser assim negociados, como Letras do Tesou­ro, moedas ou ainda outros instrumentos financeiros, conhecidos como "opções" ou "índices". Tais con­tratos são conhecidos como "contratos futuros" e comprados e vendidos por meio de leilões, num pro­cesso competitivo.
· Empréstimos dos organismos internacionais, como o FMI e o Banco Mundial, e atração de investimentos estrangeiros (transnacionais) mediante incentivos fiscais oferecidos pelos governos dos países subdesenvolvidos. Em muitos casos esses recursos são usados para importar tecnologia, melhorar a infra-estrutura e moder­nizar a economia. Ao atrair transnacionais, bus­ca-se gerar empregos e divisas. Também nesse caso devem ser levadas em conta algumas impli­cações:
- aumento da dívida externa, isto é, todo o di­nheiro que foi tomado por empréstimo fora do país, em troca de juros e com garantia de paga­mento no final de um prazo definido. No caso do Brasil, a dívida externa foi alimentada tanto por governantes eleitos quanto por ditadores, empresas estatais, nacionais e estrangeiras. Deveria servir para promover o desenvolvimento econômico e social, mas sabe-se que houve muitos desvios e negociatas. Além disso, dívidas de empresas foram repassadas à responsabilida­de pública ou tiveram aval do Banco Central, que se obrigou pelo seu pagamento.
- remessa de lucros pelas transnacionais, que enviam os lucros obtidos nos países subdesenvolvi­dos para suas matrizes localizadas nos países desenvolvidos. Ocorre, assim, uma forte saída de divisas dos países subdesenvolvidos, fato que pode gerar déficit (prejuízo) em suas contas. As­sim, os países pobres tornam-se, na prática, ex­portadores de capitais, sob forma de remessas de lucros e pagamento dos juros da dívida externa.
· Abertura do mercado financeiro aos investidores estrangeiros. Os países oferecem altas taxas de juros para atrair dólares e assim obter recursos para pagar a dívida externa contraída. Esse artifício também tem conseqüências:
- permite a saída a qualquer hora dos capitais especulativos (recursos financeiros atraídos por juros altos);
- gera mais déficit, pois o volume que sai é sem­pre maior que o volume que entra;
- submete os países subdesenvolvidos às exigências de organismos internacionais, como o FMI, para obter novos empréstimos. Isso ocor­re porque o dinheiro só é liberado sob condi­ções rígidas, como:
1. obter superávit primário, ou saldo positivo das contas públicas, excluindo o serviço de dívidas anteriormente contraídas. Ta prática, significa arrecadar mais (cobrando mais impostos e tarifas da população) e gastar menos (reduzindo os gastos em áreas sociais), para que o Estado possa pagar a nova dívida que está sendo contraída. Nesse caso, as conseqüências podem ser nefastas, como educação e saúde falidas, forças ar­madas e segurança pública sucateadas, infra-estrutura obsoleta. Esse quadro está se tor­nando comum nos países subdesenvolvidos.
2. aplicar os preceitos do neoliberalismo ("O Esta­do deve ser mínimo e não-intervencionista"). Para tanto, o FMI vem pressionando os países subdesenvolvidos para que tomem as seguintes medidas:
- promovam a liberalização dos mercados (inclusive financeiros) para a entrada de produtos estrangeiros;
- efetuem privatizações, o que diminuiria os gastos do Estado.
Os mais críticos alertam que as práticas neoliberais podem gerar uma concorrência muito desigual com os produtos estrangeiros, cuja tecnologia incorpora vantagens em relação ao similar nacional. Ressaltam que, caso as empresas estrangeiras sejam autorizadas a produzir nos países pobres, o impacto positivo sobre a geração de empregos é mínimo, uma vez que a maioria dessas indústrias utiliza formas de produção extremamente automatizadas.
Por outro lado, a superação dos problemas dos países subdesenvolvidos passa pela adoção de alguns procedimentos óbvios:
· aumentar os investimentos em pesquisa e desenvolvimento;
· exportar produtos com maior valor agregado, isto é, mais elaborados, mais valorizados no mercado externo;
· erradicar o analfabetismo e oferecer uma educa­ção que seja compatível com um maior patamar tecnológico.
É sabido, porém, que tais medidas requerem ainda mais recursos, o que significa buscar mais empréstimos junto aos organismos internacionais. Deve-se ressaltar que os interesses nacionais precisam ser privilegiados, o que exige um combate severo à corrupção que assola muitos países subdesenvolvidos.
A organização Transparência Internacional é uma ONG voltada a combater a corrupção em escala global. Ela criou um índice que mede a corrupção pela percep­ção que os cidadãos têm de sua ocorrência. Valendo-se de questionários, atribuem notas altas para os países em que as pessoas têm dificuldades em identificar ou perceber a corrupção e notas baixas para aqueles em que a corrupção é mais comum, perceptível e facilmen­te relatada. Os países que obtiveram nota superior a 7 ­são considerados pouco corruptos. Dos 21 países da América Latina incluídos no levantamento, apenas o Chile (nota 7,5) está nesse patamar.